O mercado ilegal de combustíveis, espalhado pelo País e difícil de ser combatido sem a integração de órgãos de fiscalização e investigativos, gera altos lucros ao crime organizado e sérios prejuízos aos motoristas. A sonegação de impostos no setor vai além: com a perda de bilhões anualmente, três áreas fundamentais perdem investimentos: saúde, segurança pública e educação.
Em Pernambuco, um forte esquema de furto e adulteração de combustíveis – vendidos em postos da Região Metropolitana do Recife (RMR) – foi descoberto a partir de investigação conduzida pela Polícia Civil. Na máfia, foram identificados empresários, caminhoneiros, policiais civis e militares agindo livremente pelo menos entre os anos de 2022 e 2024.
Relatório do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), obtido com exclusividade pelo Jornal do Commercio, revela detalhes de como a organização criminosa atuou e lucrou milhões de reais, ao mesmo tempo em que impostos foram sonegados e motoristas tiveram os veículos danificados pelo uso de combustíveis de péssima qualidade e em desacordo com as exigências estabelecidas em leis e regulamentos.
Segundo a investigação, motoristas de caminhões contratados por empresas fornecedoras de combustíveis eram responsáveis pelo transporte de gasolina, álcool e diesel até os postos compradores. O carregamento era feito no Complexo Industrial Portuário de Suape, localizado no Cabo de Santo Agostinho, na RMR.
Durante o trajeto, os caminhoneiros acionavam outros integrantes do grupo, avisando-os sobre o horário de saída dos caminhões, local de parada, tipo de combustível transportado e a quantidade que poderia ser retirada. Há indícios de que alguns motoristas chegavam a utilizar bloqueadores de sinal GPS para que o proprietário da empresa não percebesse o desvio da rota dos veículos carregados.
“No ponto de encontro combinado, os indivíduos aguardavam os caminhões já com os galões utilizados para furtar os combustíveis. Em seguida, tais galões eram transportados para outros locais, inclusive para a residência de alguns investigados, onde eram armazenados em local impróprio e posteriormente comercializados”, descreveu o documento da investigação.